Era uma vez uma menina que se sentia sozinha. Sempre pedia para o Papai do céu, para seu papai e sua mamãe, uma irmã. Sim, uma irmã. Teria os cabelos dourados, ela já sabia. Demorou, mas logo se reconheceram, de outras vidas, de outros planos. A menina sempre cuidando da irmã, sem saber que o excesso de cuidado poderia deixa-la frágil, achando que não fosse capaz de fazer por ela mesma o que precisava. E a irmã chorava, gritava, pedia ajuda. A menina ajudava.
Com o tempo, a menina ajudava, mas também deixava a irmã experimentar. Não concordava com as escolhas da irmã, mas deixava. Por vezes reclamava, brigava e até ofendia. Por amor. Por medo de ver a irmã machucada. Certo dia, a irmã se machucou muito, muito mesmo. A menina sentiu a dor da irmã. A menina entendeu, nesse dia, que não podia evitar que a irmã sentisse aquela dor, aquela dor era dela. A menina deixou. Deixou doer e observou. Observou a irmã levantar e cair. Amparou algumas lágrimas e deixou. A irmã caiu, mas levantou de novo.
Quando crianças, ambas tinham a quem recorrer quando era difícil se reerguer. Mas agora, só tinham uma a outra. E a menina sempre está a observar a irmã. Não é fácil vê-la cair, por diversas vezes, mas a menina sabe que a irmã tem a sua própria história. A menina sempre acreditou na irmã, que mal sabe o quanto ela ensina a menina. A irmã faz a menina compreender a transformação da vida, das gerações, das percepções e concepções. De tanto a irmã ser diferente da menina, elas se completam, se contrapõem, se equilibram. De tanto a menina amar a irmã, ela tenta, todos os dias, compreender e conviver com as diferenças, com o contraditório, com a dor de amar. De tanto amar, a menina deixa a irmã ir, mas não deixa a irmã esquecer para onde ela pode voltar.

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