"No caminho da mente à mão, da mão à caneta, da caneta ao papel, muito se perde.
O que pensamos não chega ao papel de maneira íntegra, as palavras não permitem que sejam transmitidos todo o conteúdo e a essência de nossos pensamentos, pois são insuficientes para expressar a grandeza de nossa mente (...) E pelas dificuldades que a maioria das pessoas têm em se expressar, podem estar escondidas nossas maiores ideias e essenciais propostas para direcionar o nosso futuro."
(Ideias sem palavras - Dissertação de Fernanda Trigo,
em meados do ano 2000).
Caneta, papel... Há 20 anos isso não era antiguado. Hoje as redações, quando escritas, vão para o professor em formato digital. Rápido, moderno? Sim! Mas não se vê a letra do aluno, tampouco a do professor que a corrige. Relações humanas? Menos, cada vez menos.
Sobre essas e outras reflexões, feitas em papel pelo querer, depois de passar pelo sentir e pelo pensar, apresento a vocês o "Primeiro Ensaio sobre 2050", de Luciano da Silva Costa:
O ano é 2050, população mundial: 10 Bilhões de habitantes!

A água é escassa, ainda mais rara, e uma gota vale mais do que qualquer pingente de diamante.
Os veículos elétricos prevaleceram, o ar já não é mais tão poluído, em compensação, o solo e as águas dos rios acumulam dejetos e detritos dos mais diversos.
Os mais abastados deslocam-se pelas vias aéreas, fazem viagens espaciais, comentam e aproveitam para compartilhar, através do multiverso, sobre as belezas das luas de Marte e o prazer de escalar inexploradas montanhas e contemplar um longo pôr do Sol, ou um incrível nascer do Sol, visto de Marte.
Enquanto isso, outra parte da sociedade disputa pedaços de terra, buscando cultivar algo. No entanto, cultivar o quê? Faltam sementes, grãos, frutas, flores, amizades reais, falta esperança, falta fé. Há muito vivem assim!
Perda de tempo. Era perda de tempo plantar, cultivar, aguardar para colher, limpar, separar, esperar secar... Hoje está tudo aí, ao alcance de um toque, ou melhor, de um pensar: a assistente digital já definiu o que você quer, quando quer, como e por quê quer. Não precisa nem pedir, pois tantas e tantas vezes as palavras foram repetidas ao longo da semana, que no final de semana a comida já vai chegar, combinando os teus sabores preferidos e com os devidos cuidados para que seja consumido apenas o necessário, somente o necessário. Aliás, final de semana? Já ia me esquecendo, não se usa mais esta expressão, é coisa antiquada.
Agora o tempo se divide de outra forma, o ciclo Solar foi dispensado, por isso, os finais de semana não são mais necessários. Era preciso mais tempo para produzir mais, para fazer mais, para vender mais, para acumular mais e mais e mais. Para quê? Não questione, continue fazendo e não atrapalhe o processo.
Ainda, aqueles menos favorecidos, alimentavam-se das sobras. O que sobrou da política, da educação, da economia, da cultura, o que sobrou de tudo aquilo que não servia para os mais abastados consumirem, uma vez que os menos favorecidos continuavam ocupados, muito ocupados beneficiando alguém que sequer tinha alguma preocupação com eles, pois não passavam de sequências numéricas.

Colocavam a viseira e seguiam todos sob o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Pensar? Não, isso dá muito trabalho, isso cansa, consome a energia que não conseguimos repor por tudo aquilo que nos falta, nossa assistente digital sabe tudo o que precisamos.
Aqui embaixo, entre um território e outro... Sim, é isso, não existem mais países: após a terceira guerra mundial, nomeou-se tudo como territórios, resumidos em três: a grande América, a grande China e a grande Europa.
Os lugares bacanas nos territórios ainda existem, Nova York, Paris, Tóquio, Londres, Amsterdam... Parte da antiga América e da África, ainda tem muita Natureza, mas esses lugares são perigosos, com seus insetos desconhecidos, principalmente depois de uma época de pandemia. Não os visitamos de fato, apenas observamos à distância, bem à distância. Entre os animais que lá estão, vivem outros símios, disseram que um dia foram nossos antepassados, bem distantes, acredita que comiam coisa da terra? Matavam animais para se alimentar? Um absurdo isso, não!?
É, talvez seja. Talvez, em 2050, olhemos isso tudo como um absurdo!
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